Chegou à fábrica à hora
combinada. Mandaram-no subir aos Recursos Humanos. A cada passo, no andar de
cima, sentia a trepidação mecânica da produção, mas o som chegava cada vez mais
abafado, como a voz daqueles pedintes dos quais nos afastamos sem dar qualquer
esmola. Foi recebido por uma mulher relativamente jovem, loira, saia e casaco
cinzentos. Não conseguiu não conferir o decote sorrindo da camisa branca.
Soutien branco. Pele branca. Ela entregou-lhe o manual de acolhimento. Um
calhamaço. E a roupa de trabalho, cujo custo seria descontado no primeiro
vencimento, e mandou-o ter com o encarregado. O encarregado. Atarracado.
Carrancudo. Levou-o ao vestiário. Despiu-se e vestiu-se. Sentiu frio. Deixou o
manual de acolhimento no cacifo. O encarregado conduziu-o a produção. O rumor
das máquinas cresceu até quase à asfixia. O encarregado apontou-lhe um posto de
trabalho desocupado, rente a uma enorme máquina e gritou-lhe:
–Trabalha! Tens de fazer uma
peça por minuto, 60 peças por hora, 9 horas de trabalho dá 540 peças. Trabalha!