segunda-feira, 13 de julho de 2015
sábado, 27 de junho de 2015
Doença
A doença de uma pessoa muito querida afasta-me da escrita.
As palavras tornam-se essenciais para manter acesa a chama da vida.
As palavras tornam-se essenciais para manter acesa a chama da vida.
segunda-feira, 15 de junho de 2015
Capacetes azuis
Centenas de capacetes azuis da ONU trocam sexo por comida ou sapatos.
Thomas Bernhard, na obra Autobiografia (conjunto de cinco livros sobre parte da sua vida), escrevia sobre como, no pós II Guerra Mundial, as jovens austríacas eram atiradas para os soldados americanos em troca de senhas de racionamento e outros bens.
Os anos passam, mas os comportamentos mantêm-se perante situações semelhantes.
O que fará a ONU?
Thomas Bernhard, na obra Autobiografia (conjunto de cinco livros sobre parte da sua vida), escrevia sobre como, no pós II Guerra Mundial, as jovens austríacas eram atiradas para os soldados americanos em troca de senhas de racionamento e outros bens.
Os anos passam, mas os comportamentos mantêm-se perante situações semelhantes.
O que fará a ONU?
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Kundera e o Benfica


Em Fevereiro, 1948, o dirigente comunista Klement Gottwald subiu à varanda de um palácio barroco de Praga para falar às centenas de milhares de cidadãos aglomerados na praça da Cidade Velha. Foi uma grande viragem na história da Boémia. Um momento fatídico, como acontece uma ou duas vezes por milénio.
Gottwald fazia-se acompanhar pelos camaradas, e ao lado, muito perto, estava Clementis. Nevava, fazia muito frio, e Gottwald vinha de cabeça descoberta. Clementis, muito solícito, tirou o gorro de pele que trazia e colocou-o na cabeça de Gottwald.
A secção de propaganda fez centenas de milhares de exemplares da fotografia da varanda de onde Gottwald, de gorro de pele e rodeado pelos camaradas, fala ao povo. Nesta varanda começou a História da Boémia comunista. Todas as crianças conheciam a fotografia, porque a tinham visto nos cartazes, nos manuais e nos museus.
Quatro anos mais tarde, Clementis foi acusado de traição e enforcado. A secção de propaganda fê-lo desaparecer imediatamente da História e, como é evidente, de todas as fotografias. A partir daí, Gottwald está sozinho na varanda. Onde ficava Clementis há apenas a parede vazia do palácio. De Clementis restou o gorro de pele na cabeça de Gottwald.
O livro do riso e do esquecimento, Milan Kundera
JJ troca Benfica pelo Sporting
Qual o impacto desta mudança no PIB?
Poderá o Governo invocar o interesse nacional para anular o negócio?
terça-feira, 2 de junho de 2015
O futebolista urina na via pública

Assim ia decorrendo a Primavera, as grandes correntes e os pequenos redemoinhos a terem o mesmo tratamento nas manchetes dos jornais.
V. Thomas Pynchon
Gestão RH II
O encarregado a cirandar pela
produção. Sigo-o pelo canto do olho. O olho bom, não o da limalha. Agora uso
óculos. Também descontados do vencimento. O encarregado dá um pontapé num
balde. Todos param de laborar.
– Não parem! – é o que se ouve
no silêncio desalmado das máquinas. Todos retomam as suas tarefas e o rugido
entrecortado da produção faz-se ouvir.
O encarregado pega no balde.
Metálico. Talvez de óleo. Coloca-o de borco e sobe para cima. Uma estátua.
Ainda que atarracada e carrancuda. O encarregado.
– Hoje precisam de trabalhar
mais uma hora! A partir das 7 trabalham uma hora para o cão!
Nunca vi nenhum cão na fábrica,
já as ratazanas abundam e dão festas.
segunda-feira, 1 de junho de 2015
O senhor Baltasar I
De novo. É de novo que chove. A
mesma chuva. Configurada. Talvez, até, a mesma água, apesar do mundo e dos
gregos. Altamente impossível, como a vida e, ainda assim, a mesma chuva
enevoada e rente, espessa como uma manta de lã, quase sólida, mas pela queda
incessante, acentuando a sua alma líquida, mantendo intacto o corpo denso e
carnal.
O senhor. Baltasar está dentro
do automóvel. A rua onde está é um pormenor. Sente-se molhado, apesar do
automóvel, de anos de inovações e desenvolvimentos técnicos e tecnológicos.
Molhado e quase melancólico. Melancólico e molhado. É, então, que se apercebe
de que o tejadilho do automóvel está semi-aberto. Estaria semi-fechado se o senhor
Baltasar não estivesse molhado. Semi-aberto como se sorrisse com uns dentes
cinzentos de nevoeiro e chuva coalhada liquefazendo-se. Sorri, também, o senhor
Baltasar, fechando o tejadilho e permanecendo no automóvel imóvel, imóvel e
molhado e melancólico, aguardando as anunciadas tréguas do crepúsculo.
sexta-feira, 29 de maio de 2015
Gestão de RH I
Chegou à fábrica à hora
combinada. Mandaram-no subir aos Recursos Humanos. A cada passo, no andar de
cima, sentia a trepidação mecânica da produção, mas o som chegava cada vez mais
abafado, como a voz daqueles pedintes dos quais nos afastamos sem dar qualquer
esmola. Foi recebido por uma mulher relativamente jovem, loira, saia e casaco
cinzentos. Não conseguiu não conferir o decote sorrindo da camisa branca.
Soutien branco. Pele branca. Ela entregou-lhe o manual de acolhimento. Um
calhamaço. E a roupa de trabalho, cujo custo seria descontado no primeiro
vencimento, e mandou-o ter com o encarregado. O encarregado. Atarracado.
Carrancudo. Levou-o ao vestiário. Despiu-se e vestiu-se. Sentiu frio. Deixou o
manual de acolhimento no cacifo. O encarregado conduziu-o a produção. O rumor
das máquinas cresceu até quase à asfixia. O encarregado apontou-lhe um posto de
trabalho desocupado, rente a uma enorme máquina e gritou-lhe:
–Trabalha! Tens de fazer uma
peça por minuto, 60 peças por hora, 9 horas de trabalho dá 540 peças. Trabalha!
quinta-feira, 28 de maio de 2015
CC
Uso o meu cartão de cidadão ao
peito. Tem um nome, uma fotografia de má qualidade, uma série de números e uma
assinatura. Uso-o e forço os outros a olhá-lo como prova da minha existência e,
talvez, loucura. Mas recuso-me a ser só um número. Também sou um nome, uma fotografia
de má qualidade e uma assinatura.
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